terça-feira, 29 de maio de 2007

Sobre a cobertura da ocupação da reitoria da USP...

A cobertura feita pelos veículos de comunicação presentes na Internet acerca da ocupação da reitoria da USP permite uma análise da influência que a web teve e tem no desencadear dos fatos e da forma como os próprios “atores” da notícia criaram uma cobertura própria sobre o acontecimento.

Os estudantes, que desde o dia 3 de maio ocupam a reitoria da USP, têm como principal mote de sua pauta de reivindicações a revogação dos decretos assinados pelo governador José Serra no início deste ano que, segundo eles, prejudicam a autonomia das Universidades paulistas.

Para divulgar tais idéias, eles criaram um blog “oficial” no qual são veiculados textos, vídeos e fotos que trazem a público as suas reivindicações e também sua versão quanto aos fatos ocorridos, deixando de lado a imparcialidade que deveria existir normalmente em um veículo jornalístico.

De fato, a criação de um veículo pelos próprios envolvidos no que seria a notícia coberta é uma tendência verificada já há alguns anos na mídia, em especial utilizando-se da internet como meio de propagação destas informações. Um atual e importante exemplo disso é a apropriação deste meio para a divulgação de vídeos de redes terroristas, como a AlQaeda e milícias sectárias que agem no Iraque.

Os vídeos, também postados no Youtube , são produzidos pelos próprios estudantes, que não permitem a realização de imagens dentro da reitoria pela imprensa. O objetivo dos manifestantes é mostrar à sociedade o caráter pacífico da ocupação e a manutenção do patrimônio público, buscando desmentir denúncias de que esteja havendo depredação do espaço ocupado. Talvez eles também queiram, com tal impedimento, resguardar-se da realização de imagens parciais que, ao mostrar somente os ângulos desejados por determinado veículo de imprensa, poderiam prejudicar a credibilidade dos estudantes.

Neste episódio é interessante notar que, de maneira geral, a imprensa online ainda não está adaptada à interatividade do meio e acaba realizando uma cobertura tão unidirecional quanto a de outros meios. Segundo Ramón Salaverría, doutor em Jornalismo e professor da Universidade de Navarra, em seu texto “Los Cibermedios Ante Lãs Catástrofes: del 11S al 11M” o problema se agrava com a velocidade dos fatos. “É certo que a tradicional unidirecionalidade dos meios foi reduzida com a internet, os espaços desenvolveram formatos e gêneros que estimulam a participação dos leitores. No entanto, os meios seguem sem saber como encarar essa interação quando se trata de informações de última hora”.

Prova disso é o tratamento da Folha Online , que lançou, no dia 22 de maio, a enquete “você concorda com o uso da força para a retirada dos estudantes?”, numa busca por interatividade que se torna vazia com o passar de tanto tempo sem novas iniciativas. No site do Estadão , a ferramenta é utilizada com mais dinamismo, visto que a última atualização de enquetes ocorreu ontem, dia 28 de maio. Na mesma busca dos concorrentes, o portal Terra procura oferecer interatividade incentivando os leitores a enviar fotos e informações sobre a ocupação na seção “vc repórter”. Os demais veículos, no entanto, acabam ficando na mesmice de infográficos e relatos idênticos aos dos impressos.